domingo, 20 de janeiro de 2008

CAIS


O gesto de partir nada tem de mágico.
Os mares que percorro são profundos
e as noites que miro são escuras.
O barco que me leva, busca um porto
onde eu possa germinar silenciosa.
Os faróis mal iluminam os recifes
e vez por outra um tranco me sacode.
As garrafas de gim estão vazias
e a lucidez me espreita nas balsas
que procuram náufragos e bêbados.
A manhã vem rompendo maciana boca e nos beijos de uma muIher
saindo das conchas dos sonhos.
O gesto de partir nada tem de mágico.
E ancorado nuns braços
em meio a tormenta, fico.
O gesto de ficar é mais fascínio.
Ah! Quanta ventura em jogar a âncora
e ir ficando, no teu corpo, ir ficando...
..
Jurema Barreto de Souza

4 comentários:

Haddock disse...

é que não nos damos lá muito bem com poesia...
e cheira-nos a leitão assado, o que nos distrai completamente!!

ferreira disse...

Poema muito belo, intenso.
Desconhecia a autora.

Anónimo disse...

bonitas as "balsas que procuram náufragos e bêbados".

ch disse...

ainda não encontraram os náufragos e bêbados todos ou foram as balsas que se perderam?